No dia seguinte, Aladim levantou-se muito cedo e foi ao
encontro do tio. Andaram muito até que chegaram a uma fonte de água clara. O
mágico abriu um embrulho de frutas e bolos. Quando acabaram de comer,
continuaram a andar até que chegaram a um vale estreito, cercado de montanhas.
Era este o lugar que o homem esperava encontrar. Ali havia levado Aladim por um
motivo secreto.
- Não iremos adiante, comunicou ao rapaz. Mostrarei a você
algumas coisas que ninguém ainda viu. Enquanto risco um fósforo, cate todos os
gravetos que encontrar para acender o fogo.
Aladim num instante arranjou um pilha de gravetos, aos quais
o mágico atiçou fogo. Quando as chamas cresceram, atirou-lhes um pouco de
incenso e pronunciou umas palavras mágicas que Aladim não entendeu.
Imediatamente a terra se abriu a seus pés e apareceu uma grande pedra, em cuja
parte superior havia uma argola de ferro. Aladim estava tão assustado que teria
fugido se o mágico não o detivesse.
- Se você me obedecer, não se arrependerá. Debaixo desta
pedra está escondido um tesouro que o fará mais rico do que todos os reis do
mundo. Você deverá, entretanto, fazer exatamente o que eu digo, para
conseguí-lo.
O medo de Aladim desapareceu e ele declarou ao tio:
- Que tenho a fazer? Estou pronto a obedecer.
- Segure a argola e levante a pedra, disse o homem.
Aladim fez o que o mágico havia dito. Suspendeu a pedra e
deixou-a de lado. Apareceu uma escada que conduzia a uma porta.
- Desça estes degraus e abra aquela porta, ordenou o mágico.
Você entrará num palácio onde há três enormes salões. Em cada um deles verá
quatro vasos cheios de ouro e prata. Não mexa em nenhum deles. Passe através dos
três salões sem parar. Tenha cuidado para não se encostar nas paredes. Se o
fizer, morrerá instantâneamente. No fim do terceiro salão, há uma porta que dá
para um pomar, onde as árvores estão carregadas de lindas frutas. Atravessando o
pomar, você chegará a um muro no qual encontrará um nicho. Nesse nicho, há uma
lâmpada acesa. Pegue a lâmpada, jogue fora o pavio e o azeite, e traga-a o mais
depressa que puder. Dizendo estas palavras, o mágico tirou do dedo um anel que
ofereceu a Aladim, explicando:
- Se você me obedecer, isto o protegerá contra todos os
males. Vá, meu filho. Faça tudo o que eu disse e ambos seremos felizes para o
resto da vida. 
Aladim desceu os degraus e abriu a porta. Encontrou três
salões. Atravessou-os cuidadosamente e chegou ao pomar. Foi até o muro e apanhou
a lâmpada no nicho. Jogou fora o pavio e o azeite. Finalmente, prendeu a lampada
no cinturão. Já estava decidido a voltar, mas, olhando para as árvores, ficou
encantado com as frutas. Eram de cores diferentes: brancas, vermelhas, verdes,
azuis, roxas, todas cintilantes. Na verdade, não eram frutas, mas pedras
preciosas: pérolas, diamantes, rubis, esmeraldas, safiras e ametistas. Aladim,
não sabendo seu valor, pensou que eram simples pedaços de vidro. Ficou,
entretanto, encantado com as cores e apanhou algumas de cada cor. Encheu os
bolsos e também a bolsa de couro que trazia presa ao cinturão. Assim carregado
de tesouros, correu pelos salões e logo chegou à boca da caverna. Viu o tio que
o esperava no alto da escada e pediu-lhe:
- Dê-me a mão, meu tio, e ajude-me a sair daqui.
- Primeiro, entregue-me a lâmpada, exigiu o mágico.
- Na verdade, não posso fazê-lo agora, pois trago outras
coisas que me dificultam a subida, mas assim que estiver aí em cima,
entregá-la-ei, explicou Aladim.
O mágico, que estava aflito para possuir a lâmpada,
irritou-se e atirou um pouco de incenso ao fogo, pronunciando, depois, algumas
palavras mágicas. Imediatamente a pedra voltou ao seu lugar, tapando a saída da
estranha caverna. Quando Aladim se viu na escuridão, chamou o mágico e
implorou-lhe que o tirasse dali. Prometeu-lhe mil vezes que lhe daria a lâmpada.
Seus rogos, entretanto, foram em vão. Desesperado, tentou atingir novamente a
porta que conduzia aos salões, para ver se conseguia chegar ao pomar. A porta,
porém, estava fechada. Durante dois dias, Aladim permaneceu na escuridão, sem
comer, nem beber. Por fim, juntou as mãos para rezar e, ao fazê-lo, esfregou o
anel que o mágico tinha posto em seu dedo. No mesmo instante, um gênio, enorme e
assustador, surgiu da terra, dizendo:
- Que deseja? Sou o escravo do anel e cumprirei suas ordens.
Aladim replicou:
- Tire-me daqui.
Logo a terra se abriu e ele se encontrou lá fora. Muito
artordoado foi andando para casa e, ao chegar, caiu desfalecido junto à porta.
Quando voltou a si, contou à mãe o que lhe havia acontecido. Mostrou-lhe a
lâmpada e as frutas que tinha trazido. Pediu-lhe, depois, alguma coisa para
comer, ao que ela respondeu:
- Meu filho, nada tenho em casa, mas fiei algum algodão e
irei vendê-lo.
- Em vez do algodão, mamãe, venda a lâmpada, propôs o menino.
Ela apanhou a lâmpada e começou a esfregá-la, porque estava
muito suja. Nesse momento, surgiu um gênio que gritou bem alto:
- Sou o
gênio da lâmpada e obedecerei à pessoa que a estiver segurando.
A senhora estava assustada demais para poder falar, mas o
menino agarrou-a ousadamente e disse:
- Arranje-me alguma coisa para comer.
O gênio desapareceu e voltou equilibrando na cabeça uma
bandeja de prata na qual havia doze pratos, também de prata, cheios das melhores
iguarias. Havia ainda dois pratos e dois copos vazios. Colocou a bandeja na mesa
e dasapareceu outra vez. Aladim e sua mãe sentaram-se e comeram com grande
prazer. Nunca haviam provado comida tão gostosa. Depois de comerem tudo,
venderam os pratos, conseguindo, assim, dinheiro que deu para viverem por algum
tempo com bastante conforto.
Um dia, quando passeava pela cidade, Aladim ouviu uma ordem
do sultão mandando que fechassem as lojas e saíssem todos das ruas, pois sua
filha, a princesa, ia ao banho de mar e não podia ser vista por ninguém. O rapaz
escondeu-se atrás de uma porta, de onde podia ver a princesa quando passasse.
Não decorreu muito tempo e ela veio, acompanhada de uma porção de aias. Quando
chegou perto da porta onde Aladim estava escondido, tirou o véu e ele viu seu
rosto. A moça era tão bonita que ele desejou casar-se com ela. Chegando a casa
contou à mãe seu amor pela princesa. A senhora riu-se e respondeu:
- Meu filho, você deve estar louco para pensar numa coisa
destas!
- Não estou louco, mamãe, e pretendo pedir a mão da princesa
ao sultão. Você deve procurá-lo para fazer o pedido, disse ele.
- Eu??? Dirigir-me ao sultão??? Você sabe muito bem que
ninguém pode falar-lhe sem levar um rico presente, informou a senhora.
- Bem, vou contar-lhe um segredo. Aquelas frutas que trouxe
da caverna não são simples pedaços de vidro. São jóias de grande valor. Tenho
olhado pedras preciosas nas joalherias e nenhuma é tão grande, nem tem o brilho
das minhas. A oferta delas, estou certo, comprará o favor do sultão.
Aladim trouxe as pedras da cômoda onde as tinha escondido e
sua mãe colocou-as num prato de porcelana. A beleza de suas cores assombrou a
senhora, que ficou certa de que o presente não poderia deixar de agradar ao
sultão. Ela cobriu o prato e as jóias com um bonito pano de linho e saiu para o
palácio. A multidão daqueles que tinham negócios na corte era grande. As portas
estavam abertas e ela foi entrando. Colocou-se em frente ao sultão. Ele,
entretanto, não tomou conhecimento de sua presença. Durante uma semana, ela foi
lá diariamente, ocupando sempre o mesmo lugar. Afinal, ele viu-a e perguntou o
que desejava. Tremendo, a boa mulher falou-lhe sobre a pretensão do filho. O
sultão ouviu-a amavelmente e perguntou-lhe o que trazia na mão. Ela tirou o
guardanapo de cima do prato e mostrou-lhe as jóias cintilantes. Que surpresa
teve ele ao ver tais maravilhas! Durante muito tempo, contemplou-as sem dizer
nada. Depois exclamou:
- Que riqueza! Que encanto!
Ele já havia determinado que a filha se casaria com um de
seus oficiais; no entanto, disse à mãe de Aladim:
- Diga a seu filho que ele desposará a princesa se me enviar
quarenta tinas cheias de jóias como estas. Elas deverão ser-me entregues por
quarenta escravos negros, cada um dos quais será precedido de um escravo branco,
todos ricamente vestidos.
A mãe de Aladim curvou-se até o chão e voltou para casa
pensando que tudo estivesse perdido. Deu o recado ao filho esperando que, com
isso, ele desistisse. Aladim sorriu, e quando a mãe se afastou, apanhou a
lâmpada e esfregou-a. O gênio apareceu no mesmo instante e ele pediu-lhe que
arranjasse tudo que o sultão havia pedido. O gênio desapareceu e voltou trazendo
quarenta escravos negros, cada um carregando na cabeça uma tina cheia de
pérolas, rubis, diamantes, esmeraldas, safiras e ametistas. Os quarenta escravos
negros e outros tantos brancos encheram a casa e o jardim. Aladim ordenou-lhes
que se dirigissem ao palácio, dois a dois, e pediu à sua mãe que entregasse o
presente ao sultão. Os escravos estavam tão ricamente vestidos que todos, nas
ruas, paravam para vê-los. Entraram no palácio e ajoelharam-se em frente ao
sultão, formando um semi-círculo. Os escravos negros colocaram as tinas no
tapete.
O espanto do sultão, à vista daquelas riquezas, foi
indescritível. Depois de muito contemplá-las, levantou-se e disse à mãe de
Aladim:
- Diga a seu filho que o espero de braços abertos.
A senhora, feliz com a notícia, não perdeu tempo. Saiu
correndo e deu o recado ao filho. Aladim, entretanto, não teve pressa. Primeiro
chamou o gênio e pediu-lhe:
- Desejo um banho perfumado, uma roupa luxuosa, um cavalo tão
bonito quanto o do sultão, vinte escravos e, além disso, vinte mil moedas de
ouro distribuídas em vinte bolsas. Tudo isso apareceu imediatamente à sua
frente. Aladim, elegantemente vestido e montado num lindo cavalo, passou pelas
ruas, causando admiração a todos. Os escravos marchavam a seu lado, cada um
carregando uma bolsa cheia de moedas de ouro, para distribuir pelo povo. Quando
o sultão viu aquele belo rapaz, saiu do trono para recebê-lo. À noite
ofereceu-lhe uma grande festa. Ele desejava que Aladim se casasse logo com a
filha, mas este lhe disse:
- Primeiro, construirei um palácio para ela.
Assim que regressou à casa, chamou o gênio e disse:
- Dê-me um palácio do mais fino mármore, incrustado de pedras
preciosas. Nele quero encontrar estábulos, cocheiras, lacaios, escravos. A mais
fina decoração, com os móveis mais luxuosos do mundo.
O casamento de Aladim com a princesa realizou-se no meio de
grande regozijo. O rapaz já havia conquistado o coração do povo, por sua
generosidade. Durante muito tempo eles foram imensamente felizes. Nesta ocasião,
o mágico que estava na África descobriu que Aladim era muito rico e querido de
todos. Cheio de raiva, embarcou para a China. Lá chegando, ouviu algúem falar do
palácio maravilhoso que tinha sido levantado pelo gênio da lâmpada. Resolveu,
então, obter a lâmpada, custasse o que custasse. Os mercadores contaram-lhe que
Aladim tinha ido caçar e que estaria ausente por alguns dias. Ele comprou uma
dúzia de lâmpadas de cobre, iguais à lâmpada maravilhosa, e foi ao palácio
gritando:
- Trocam-se lâmpadas novas por velhas!
Quando chegou à janela da princesa, os escravos chamaram-no,
dizendo:
- Venha cá. Temos uma lâmpada feia e velha que queremos
trocar.
Era a lâmpada maravilhosa, que Aladim havia deixado em cima
de um móvel. A princesa não sabia seu valor; por isso, pediu a um escravo que a
trocasse por uma nova. O mágico, muito contente, deu-lhe a melhor lâmpada que
tinha, e saiu correndo para a floresta. Quando anoiteceu, chamou o gênio da
lâmpada e ordenou que o palácio, a princesa e ele próprio fossem carregados para
a África.
O pesar do sultão foi terrível quando descobriu que a filha e
o palácio tinham desaparecido. Enviou soldados à procura de Aladim, que foi
trazido à sua presença.
- Pouparei sua vida por quarenta dias e quarenta noites, lhe
informou o sultão. Se durante este tempo minha filha não aparecer, mandarei
cortar-lhe a cabeça.
Aladim vagou por toda a cidade, perguntando às pessoas que
encontrava o que havia acontecido ao seu palácio. Ninguém sabia dar-lhe
informação . Depois de muito andar, parou num riacho para matar a sede.
Abaixou-se e juntou as mãos para apanhar um pouco de água. Ao fazê-lo, esfregou
o anel mágico que trazia no dedo. O gênio do anel apareceu e perguntou-lhe o que
queria.
- Ó gênio poderoso, devolve-me minha esposa e meu palácio!
Implorou ele.
- Isto não está em meu poder, disse o gênio. Peça-o ao gênio
da lâmpada. Sou apenas o gênio do anel.
- Então, pediu Aladim, leva-me até onde estiver o palácio.
Imediatamente, o rapaz sentiu-se carregado pelos ares.
Finalmente chegou a um país estranho, onde logo avistou o palácio. A princesa
estava chorando em seu quarto. Quando viu Aladim, ficou muito contente. Correu
ao seu encontro e contou-lhe tudo o que havia acontecido. Aladim, ao ouvir falar
na troca das lâmpadas, percebeu logo que o mágico era o causador de toda aquela
aflição.
- Diga-me uma coisa, perguntou à esposa, onde está a lâmpada
velha agora?
- O velho carrega-a no cinturão e não se separa dela noite e
dia.
Depois de muito conversarem, fizeram um plano para conseguir
a lâmpada de volta.
Aladim foi à cidade e comprou um pó que fazia a pessoa dormir
instantaneamente. A princesa convidou o mágico para jantar em sua companhia.
Enquanto comiam os primeiros pratos, ela pediu a um criado que lhe trouxesse
dois copos de vinho, que ela havia preparado. O mágico, encantado com tanta
gentileza, bebeu o vinho no qual ela havia derramado certa quantidade do pó.
Suas idéias foram ficando meio confusas e ele pegou no sono.
Aladim, que estava escondido atrás de uma cortina, veio
depressa e apanhou a lâmpada do cinturão do velho. Depois mandou que os
empregados o carregassem para fora do palácio e o deixassem bem longe dali. A
seguir, esfregou a lâmpada e, quando o gênio apareceu, pediu-lhe que levasse o
palácio de volta para a China. Algumas horas mais tarde, o sultão olhando pela
janela, viu o palácio de Aladim brilhando ao sol. Mandou, então, dar uma festa
que durou uma semana.
O mágico, quando acordou no dia seguinte e se viu no meio da
rua sem a lâmpada, ficou desesperado. Levantou-se e foi andando, tão distraído
que não viu uma carruagem que se aproximava. O resultado foi que morreu debaixo
das patas dos cavalos. Aladim e a esposa viveram felizes pelo resto da vida.
Quando o sultão morreu, Aladim subiu ao trono e reinou por muitos anos, sendo
sempre querido do povo."