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João e o pé de feijão
"No tempo do Rei Alfredo, muito
longe de Londres, vivia uma pobre viúva. Ela tinha um único filho, que era muito
rebelde e extravagante. Aos poucos, ele gastou todo o dinheiro que ela possuia.
Um dia, pela primeira vez na vida, censurou-o:
- Filho malvado!!! Não tenho mais dinheiro nem sequer para comprar um pedaço de
pão. Só o que me resta é a minha pobre e velha vaca.
João tanto amolou a mãe para vender a vaca, que ela acabou consentindo. Quando
ele ia levando o animal, encontrou um açougueiro que lhe propôs trocar a vaca
por uns grãos mágicos de feijão que ele levava no chapéu. João, julgando ser
isso uma grande oferta, aceitou a proposta e voltou para casa. Quando sua mãe
viu os feijões por que ele havia trocado a vaca, perdeu a paciência. Apanhou os
grãos de feijão, atirou-os para fora da janela, e pôs-se a chorar. João tentou
consolá-la, mas não o conseguiu. Como não tinham nada para comer, foram
deitar-se com fome.
No dia seguinte, João acordou cedo e viu que alguma coisa estava fazendo sombra
na janela de seu quarto. Levantou-se, desceu as escadas e foi ao jardim. Aí
verificou que os grãos que sua mãe havia atirado pela janela, tinham germinado e
o pé de feijão crescera surpreendentemente. As hastes eram grossas e tinham-se
entrelaçado como uma trança. Estavam tão altas, que davam a impressão de
alcançarem as nuvens. João, que gostava de aventuras, resolveu trepar na árvore
que se formara, até atingir o alto. Depois de levar algumas horas subindo,
chegou a um país estranho. Ali encontrou uma bonita moça, elegantemente vestida,
e com um sorriso encantador lhe perguntou como havia chegado até lá e ele lhe
contou que subira pelo pé de feijão.
- Você se lembra de seu pai? Perguntou-lhe a moça.
- Não, senhora. Mamãe sempre chora quando falo nele e não me diz nada, respondeu
o menino.
- Sou a fada protetora de seu pai, disse-lhe a moça. As fadas estão sujeitas a
leis, como os homens, e quando cometem um erro, perdem o seu poder por alguns
anos. Eu estava incapaz de ajudar seu pai quando ele mais precisou de mim e por
isso ele morreu.
A fada parecia tão triste que João se sentiu comovido e pediu-lhe que
continuasse a falar.
- Seu pai era um homem muito bondoso, continuou a fada. Tinha uma boa esposa,
empregados fiéis e muito dinheiro. Teve, porém, uma infelicidade: um amigo
falso, um gigante que ele havia ajudado muito e que, em retribuição, o matou e
roubou tudo o que ele tinha. Também fez sua mãe prometer que nunca lhe contaria
nada, sob pena de matá-los também. Eu não pude ajudá-la. Meu poder só reapareceu
no dia em que você foi vender sua vaca. Fui eu que fiz você trocar a vaca pelos
feijões. Fui eu que fiz o pé de feijão crescer tão depressa e lhe inspirou o
desejo de subir por ele. O malvado gigante vive aqui e você deve livrar o mundo
deste monstro, que não faz outra coisa senão maldade... Pode apossar-se
legalmente de sua casa e de suas riquezas, porque tudo pertencia a seu pai e é
seu, mas não deixe sua mãe saber que você está a par desta história.
João perguntou-lhe o que devia fazer:
- Vá seguindo por esta estrada até encontrar uma casa grande, parecida com um
castelo. É aí que o gigante vive. Então, aja de acordo com seu próprio modo de
pensar. Seja bem sucedido... boa sorte!
A fada desapareceu e João caminhou até o sol se pôr. Com grande alegria, avistou
a casa do gigante. Uma mulher de aparência simples estava à porta. Ele pediu-lhe
um pedaço de pão e um lugar para dormir. Ela ficou muito surpresa e disse que
não era comum aparecer ali um ser humano. Era sabido que seu marido, um gigante
poderoso, não gostava de pessoas rodando perto de sua casa e ficava muito
bravo... João ficou muito amedrontado, mas teve esperança de que o gigante não
fosse tão ruim assim. Insistiu para que a mulher o deixasse passar a noite lá,
escondendo-o do gigante. Finalmente, ela concordou. Entraram e ela o levou a um
quarto, onde lhe deu de comer e beber. De repente, ouviram uma batida forte na
porta, que fez a casa estremecer.
- É o gigante, disse a moça. Se ele o vir aqui, o matará e a mim também. Que
farei?
- Esconda-me no forno, pediu João. O forno estava apagado e João entrou nele bem
depressa. De lá ouvia o gigante gritar com a mulher e repreendê-la. Depois,
sentou-se à mesa. João espiou por uma fenda no fogão e ficou horrorizado ao ver
a quantidade de comida que ele ingeria. Tinha-se a impressão de que não ia
acabar mais de comer e beber. Quando terminou, virou-se para trás e gritou para
a sua mulher, com uma voz de trovão:
- Traga a minha galinha!
Ela obedeceu e colocou sobre a mesa uma bonita galinha.
- Ponha um ovo! ordenou ele.
Imediatamente, a galinha pôs um ovo de ouro.
- Ponha outro! continuou ele.
Cada vez que assim ordenava, ela punha um ovo maior do que o outro. Durante
muito tempo, assim se divertiu com a galinha. Depois mandou a mulher para a cama
e sentou-se perto da lareira, onde adormeceu, roncando alto como um canhão.
Assim que ele pegou no sono, João saiu do forno, agarrou a galinha e fugiu com
ela. Correu pela estrada até encontrar o pé de feijão, pelo qual desceu
rapidamente. Sua mãe ficou cheia de alegria ao vê-lo. Ela pensara que lhe
tivesse acontecido alguma coisa.
- Nada disso, Mamãe! E lhe contou toda a aventura, sem todavia falar no nome do
pai. Mostrou-lhe a galinha, à qual ordenou várias vezes: "-Ponha um ovo!" e ela
pôs quantos ovos ele desejou. Vendidos esses ovos, João e sua mãe ficaram com
tanto dinheiro, que viveram felizes por muitos meses.
Um dia, ele resolveu fazer nova visista ao gigante, a fim de trazer mais
riquezas. Arranjou uma roupa que o disfarçava e pintou o rosto com uma tinta
escura. Levantou-se muito cedo, antes que a mãe acordasse e subiu pelo pé de
feijão. Caminhou o dia todo e chegou à casa do gigante ao escurecer. Encontrou a
mesma mulher à porta e pediu-lhe que lhe desse de comer e um lugar para dormir.
Ela lhe contou que o marido era um gigante poderoso e cruel, e que um dia, ela
dera abrigo a um menino pobre e faminto que, ingrato, roubara um dos tesouros do
gigante. O marido culpara-a por isso e, desde então, começara a maltratá-la.
João teve muita pena dela, mas insistiu para que o recebesse. Afinal, ela acabou
consentindo. Levou-o à cozinha e, quando ele acabou de comer, escondeu-o num
armário velho. O gigante chegou à hora de costume. Pisava tão forte que a casa
estremecia sob seus passos. Sentou-se junto à lareira e gritou:
- Mulher, sinto cheiro de carne fresca. A esposa respondeu-lhe que os corvos
tinham deixado um pedaço de carne crua no telhado. Enquanto ela preparava a
ceia, ele esteve de mau humor, frequentemente culpando a esposa pela perda da
galinha. Afinal, quando terminou a refeição, gritou:
- Dê-me alguma coisa para distrair-me. Traga minhas sacas de dinheiro. A esposa
trouxe-as, com dificuldade, porque estavam muito pesadas. Eram duas, cheias de
moedas de ouro. Ela despejou-as na mesa e o gigante começou a contá-las com
alegria.
- Agora você pode ir para a cama, sua velha tonta, disse ele, e a mulher se
retirou.
De seu esconderijo, João via-o contando as moedas. Ele sabia que elas tinham
pertencido a seu pai e desejou possuí-las. O gigante, sem saber que estava sendo
observado, colocou as moedas novamente nas duas sacas. Amarrou-as bem e
colocou-as ao lado da sua cadeira. Seu cachorro estava ali de guarda. Daí a
pouco, o gigante adormeceu e começou a roncar tão alto que parecia o barulho do
mar em dia de tempestade.
Então, João saiu do esconderijo, mas, exatamente quando ia segurando as sacas de
dinheiro, o cachorro pôs-se a latir furiosamente. João parou, esperando que seu
inimigo acordasse e, então... estaria tudo perdido!!! Mas felizmente, isso não
aconteceu: o gigante continuou a dormir profundamente. Neste instante, João viu
um pedaço de carne e atirou-o ao cão, que parou de latir na hora. O menino
aproveitou a ocasião para carregar as sacolas de moedas, colocando-as uma em
cada ombro. Eram tão pesadas, que ele levou dois dias para descer pelo pé de
feijão. Quando chegou a casa, deu à mãe todo o dinheiro, com o qual ela reformou
a vivenda e mobiliou-a de novo. Eles estavam felizes como não eram havia muito
tempo.
Durante três anos, João procurou não visitar mais o gigante. Um dia, porém,
começou a preparar-se para nova viagem. Arranjou um disfarce diferente e melhor
do que o usado da última vez. Era verão e em uma manhã bem cedo, sem dizer nada
à mãe, subiu pelo pé de feijão, chegando à casa do gigante ao anoitecer. Como de
costume, encontrou a mulher em pé, na porta. João estava tão bem disfarçado que
ela não o reconheceu. Mas, quando se disse muito pobre e faminhto, encontrou
grande dificuldade em ser admitido. Depois de muito insistir, conseguiu que ela
o escondesse num caldeirão grande de cobre. Quando o gigante chegou, disse
furioso:
- Sinto cheiro de carne fresca!!! Apesar de todas as desculpas que a esposa lhe
dava, pôs-se a revistar tudo. João estava horrorizado, desejando mil vezes
ver-se em casa, são e salvo. Quando o gigante chegou ao caldeirão e pôs a mão
na tampa, João considerou-se morto. Mal ele começara a levantar a tampa, mudou
de idéia, deixando-a cair. Foi sentar-se perto da lareira, para devorar a grande
ceia. Quando acabou, deu ordens à mulher para trazer-lhe a harpa. João espiou
pela tampa do caldeirão e viu a harpa mais original que podia imaginar. o
gigante colocou-a sobre a mesa e disse:
- Toque!!! Imediatamente ela começou a tocar uma linda música e João desejou
apoderar-se dela, mais do que qualquer outro tesouro do seu inimigo. O gigante
não era apreciador de música. A harpa embalou-o, fazendo-o dormir mais cedo do
que de costume. Assim que João verificou que estava tudo bem, saiu do caldeirão,
pegou a harpa e saiu correndo. Entretanto, a harpa era encantada e, assim que se
viu em mãos estranhas, pôs-se a gritar alto:
- Patrão!!! Patrão!!!
O gigante acordou, levantou-se e viu João correndo.
- Oh!!! Você, vilão!!! Foi você quem roubou minha galinha, meu dinheiro e agora
vai levando minha harpa!!! Espere aí que eu vou pegá-lo e fazer picadinho de
você!!! - ameaçou ele em seu vozeirão de trovão.
- Muito bem, experimente!!! desafiou João. Ele sabia que o gigante havia comido
tanto que mal podia ficar de pé, imagine correr atrás dele. Por outro lado, ele
era jovem, tinha pernas ágeis e a consciência tranquila, o que muito ajuda o
homem a caminhar com facilidade. Assim, num instante, chegou ao pé de feijão e
foi descendo o mais depressa que pode. A harpa ia tocando uma suave canção.
Chegando em casa, encontrou sua mãe chorando, muito preocupada. Ele a consolou e
pediu-lhe que fosse buscar, depressa, uma machadinha. O gigante já vinha
descendo e não havia tempo a perder. As más ações do monstro tinham, porém,
chegado ao fim. João cortou o pé de feijão bem na raiz. O gigante caiu de cabeça
no jardim e morreu imediatamente. Nesse momento, apareceu a fada que explicou
tudo à mãe de João e eles puderam assim continuar a cuidar da vida e da fazenda,
nunca mais faltando dinheiro para comer, e João sentiu-se também muito feliz
pois pode finalmente vingar a morte de seu pai.
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