No palácio celeste, moram as fadas chinesas. Elas passam os
dias tecendo nuvens. São elas que emprestam às nuvens formas de animais, de
brinquedos e até de algodão-doce.
Mas não é divertido para elas. Todos os dias são iguais, lá no céu. Um dia duas
fadinhas resolveram:
- Vamos conhecer a Terra? Partiremos em segredo. O Imperador, nosso pai, nunca
permitiria essa viagem.
Desceram à Terra e escolheram duas velhinhas para proteger. Com o tempo, seus
corpos perderam a transparência e as fadas chinesas passaram a ser confundidas
com seres humanos. Conheceram crianças, trabalharam como atrizes e pintoras. Nem
se lembravam da antiga vida no céu.
Só depois que as fadas já estavam na Terra havia cem anos foi que o Imperador
descobriu a ausência delas. Isso porque no céu o tempo demora a passar. As
outras fadas disseram ao pai celeste que suas irmãs tinham desaparecido havia
apenas sete dias. Mesmo assim... o Imperador ficou furioso. Quando ele se
aborrecia, os céus se turvavam. Cada grito que soltava se transformava
imediatamente num raio luminoso. Cada gota de suor que brotava de sua testa se
tornava uma horripilante tempestade.
Na Terra... as fadinhas, ao verem as chuvas torrenciais e ouvirem os trovões,
lembraram-se da voz do pai.
- É preciso voltar - concluiu a mais velha - se não regressarmos, papai
destruirá a Terra; nossos amigos sofrerão, traremos dor e danos àqueles que nos
acolheram.
Tristes, as fadinhas se despediram de todas as crianças das quais tinham ficado
amigas e subiram para o caminho do céu.
Sabiam que seria difícil retornar à Terra, pois de agora em diante o Imperador
as vigiaria eternamente.
- Eu gostaria tanto de voltar a ver a Terra - disse a mais jovem.
- E eu, de oferecer um presente para as crianças... - acrescentou a mais velha.
Foi então que tiveram uma idéia maravilhosa: tiraram os espelhos mágicos das
longas mangas de suas vestes, que era onde costumavam guardá-los e os lançaram
na Terra. Os espelhos desceram tão rápido que os olhos humanos não foram capazes
de vê-los rodopiando no ar. Quando caíram, se transformaram em dois lagos
redondos, cintilantes e cristalinos. Suas águas eram doces e límpidas,
refletindo perfeitamente as florestas, as colinas e o rosto das crianças.
E hoje sempre que uma criança nada nas águas desses lagos, sabe que recebe a
proteção das fadas celestes, que continuam a tecer as brancas nuvens dos céus.